segunda-feira, 29 de novembro de 2010

POEMAS DO DESESPERO - O INFERNO

                         
                            
É o meliante, um político,
Ou é o político, um meliante?
Pus a questão a um causídico
Mandou-me ao Inferno de Dante


Com carta de recomendação
Pelo advogado rubricada
Que sem qualquer hesitação
Me cedeu, também, a morada


Para desfazer a confusão
Ao Inferno me dirigi
Destemido, num foguetão,
Para o espaço, logo parti.


E quando, pelo calor que senti,
E que aumentou, subitamente,
Do para-quedas me socorri
Ao Inferno, alegremente.


O que me sucedeu, então,
Nunca mais esquecerei.
Na comissão de recepção
Nenhum demónio topei.


Eram políticos, somente,
Eles, tudo, dominavam.
Aldrabaram-nos, certamente,
Os belzebus que tiranizavam.


E no reino dos mafarricos,
Tirei conclusões fatais.
Terei que aguentar políticos,
Deles não escaparei, jamais!
 

E para os demos, qual a missão,
Em domínios que pensava seus?
Os políticos os têm na mão,
Andará distraído, Deus?


E totalmente desconcertado,
Fui visitar as instalações.
Vi o inferno abarrotado,
Gente de todas as profissões


Vi ladrões, espoliados,
Ricos que eram pedintes.
Vi negreiros, acorrentados,
E pregadores sem ouvintes


Juízes a serem julgados
Por crimes que cometeram.
Advogados a serem enganados
Pagando pelo que fizeram


Vi proxenetas explorados
Deputados carregando carvão
E pedófilos sodomizados
Por tarados, em ebulição


Vi caçadores, caçados
Autarcas, cinzas varrendo.
Violadores, violados,
Nazis, em bombistas batendo.
 

Traficantes com setas espetadas,
Inquisidores, em fogo ardendo.
Toureiros com farpas cravadas,
Justamente, todos sofrendo.



Mas, de repente, a estupefacção,
Milhares de demónios desfilavam.
Em ruidosa manifestação,
Grandes cartazes ostentavam.



"Os diabos unidos,
Jamais serão vencidos".
Gritavam a plenos pulmões,
Ribombando como trovões



Até os próprios mafarricos
Formaram partidos políticos.
E adoravam a televisão,
E telenovelas de perdição.


E assim, bem entretidos,
Com o seu tempo ocupado,
São eles os derretidos,
Vêm o Inferno tomado.


É que nem aquilo escapou
À esperteza dos políticos.
Então, uma ideia me assaltou,
E juntei-me aos mafarricos.


E tentei-os despertar
Lembrei-lhes a sua missão
Acabei por me tramar
Fui expulso, de foguetão


HÁ MAIS DO QUE DROGA,  NO INFERNO. 
HÁ POLÍTICOS, HÁ ADVOGADOS, HÁ MAGISTRADOS E AUTARCAS. 
TUDO JUNTO DÁ UMA MISTURA EXPLOSIVA. 
MAS COMO É NO INFERNO, NÃO SE NOTA.