segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

POESIA DO DESESPERO - A BARCA DA ALMA



Na barca dos surdos lamentos
Delira minha alma, embarcada
Habita seus últimos momentos
Nas margens da vida, encalhada.

Entrincheirada na mudez
Não pensa nem liga a nada
Nem lhe importa a nudez
De ilusões despida, gelada.

No fim do meu rio, esgotada
Nas ondas se vai afogando.
Vai aguardando pelo nada
Que o nada já vem chegando.

Traz no porão reveses
Mágoas e sonhos perdidos.
Ainda soltou, por vezes
Não escutados gemidos.

E teimando, carregada
Recusa desencalhar.
Porque da carga alijada
Voltaria a navegar.

Mas tendo o casco decrépito
De pancadas das circunstâncias
Abdica, sem grande estrépito
Vacila, sem haver constâncias.

E aguarda, limita-se a estar
Obedece, imóvel, indolente
Às vagas que vêem fustigar
A sua armação decadente.

E assim de maltratada
De mil impactos padecer
Será, um dia, esventrada
Em mil pedaços se desfazer.

E todas as suas mágoas
E penas de amor ausente
Se espalharão pelas águas
Vaguearão, eternamente.

Mas talvez que em Nações
Por Mares e Oceanos cercadas
Se possam escutar orações
Se acaso forem encontradas.

E nos mares cheios de penas
Que boiando e se achadas
Que se alinhem, às centenas
Cânticos às almas danadas.

Odes aos tormentos sofridos
Pela minha alma espancada
Que suspenderá seus gemidos
E navegará, por fim, libertada.






TODAS AS POESIAS QUE CONSTAM DESTE BLOG SÃO DE MINHA AUTORIA. SÃO UMA HOMENAGEM À MINHA IRMÃ. ERA UM ANO MAIS NOVA DO QUE EU. MORREU QUANDO CONTAVA SEIS ANOS DE IDADE. EU CONTAVA SETE. DESDE SEMPRE É ELA  O MEU ANJO DA GUARDA. É ELA QUEM ME INSPIRA.