POEMAS DO DESESPERO - A MALDADE HUMANA

É um lindo coelhinho
Ao lado de sua mãe
Vira para mim o focinho
Que bonitos olhos tem

Como o pelo é fofinho
Apetece-me, até, tocar
Aproxima-se num saltinho
E minha mão vem beijar

Mas não é por submissão
É só por curiosidade
Encanta-me a sua expressão
Nasceu, ali, amizade

Tem boca, olhos, nariz
Para ver, comer, respirar
O que pensa de mim não o diz
Porque não consegue falar

Não faz mal a ninguém
Só queria viver sossegado
Tem o direito que o Homem tem
De ter presente, futuro e passado

Será que no Acto da Criação
E nem interessa quem o criou
Que este ser vivo , com coração,
Para servir de alvo , o idealizou ?

Se para ser despedaçado
E se fosse essa a intenção
Nasceria com um alvo gravado
Não fugiria da destruição.

Se foge é porque quer viver
É o instinto de conservação
Defende-se, só a correr,
Contra armas em evolução

A luta é tão desigual
As armas são tão diferentes
Com as patas , o animal,
O homem, com a escória das mentes

Usando argumentos mil
Apelidando-me de fundamentalista
E sou eu que sou o  vil?
Afinal quem é terrorista?

Que sempre se caçava
E que é uma tradição
Antes a lança bastava
Hoje, usa-se até o canhão

E que dizer da inquisição
Para não falar da escravatura
Também foram tradição
Eram só crueldade pura

Matar ou fazer sofrer
Como provoca emoção ?
Dizem, é só para entreter,
Aos instintos dão satisfação

Quem para os animais é cruel
E que desporto àquilo chame
Tem a maldade à flor da pele

E ainda há quem os ame ?

Argumentam que há animais
Que caçam para sobreviver
Eles que são irracionais
Não se divertem , a fazer sofrer

Como chamar àquilo gente
Divertem-se com a destruição
A compaixão têm ausente
Semeiam a devastação

Rasgam-se caminhos e estradas
Incendeia-se a floresta
No pouco espaço que resta
Chacinas são comemoradas

Coelhinho que só já existes
Na pança de um desalmado
Devoraram-te, os tristes,
Na retrete serás defecado

Terias um tempo de vida
Para viver foste criado
Nem tiveste despedida
Em merda estás transformado

E a tua mãe, destroçada
Como ela ficou a sofrer
Procura por ti , desesperada
Como outra mãe qualquer

Que amargura sinto em mim.
De tal destreza eras dotado
Mas nesta desgraça sem fim
Tudo o que mexe, é devorado