quinta-feira, 18 de novembro de 2010

POEMAS DO DESESPERO - AQUELA ESTRELA






Brotaste, tão a medo,
Bela flor do meu jardim                        
E vieste a morrer tão cedo
Padecendo, tanto assim.                           

E, em silêncio, te olhava
Com um desgosto sem fim.
Porque a doença minava
Teu rosto de querubim.

Parecias a dama velada
Que Rafael imortalizou
Pena que teu rosto de fada
Nunca ninguém o pintou

E já é tarde, como lamento
Não ter aprendido a pintar.
Mas pinto-o, no pensamento,
Sempre o poderei retocar

E assim permanecerás bela
Sem a idade te pesar
A mais adorável tela
Que, na morte, quero levar

Errei pelos campos à toa
Em não crente me tornei.
Em mim, tua voz ecoa
De onde parte, não sei.

E como ela era tão doce
E cada palavra um delírio.
Ouvi-la, um segundo que fosse
Sem a escutar, um martírio.

Se Camões te conhecesse
Por ti, perdido estaria
E, talvez, te engrandecesse
Que versos que te faria.

E como eras escultural
Miguel Ângelo te esculpiria
Teu lugar, num pedestal
No Vaticano estaria.

E que grandiosa sinfonia
Beethoven te comporia.
O expoente da harmonia
Para a História passaria.

Mas esses teus olhos serenos
Cerraram-se, ao fim da tarde.
E desde então, meus dias plenos
De tanta dor, de saudade.

Foi num dia de ventania
Quando tu me deixaste.
Ficou, em mim,  a invernia
Porque não me levaste?

E em redor, tudo estancou
E todas as fontes secaram.
Uma nuvem, o Sol tapou
Os passarinhos choraram.

E partilhando a tristeza
Que de todos se apoderou
Um Anjo, de tal beleza
A tua face beijou.

E uma águia imponente
Com penas de todas as cores
Pousa mesmo à tua frente
Trazendo, no bico, flores.

E de Scubert, a Avé Maria
Uma menina cantou.
Tal o pranto que corria
Da emoção que transbordou.

Aos Anjos todos do Céu
Aos Santos de cada Altar
Devolvam-me o que era meu
Acabem com este penar.

Mas numa noite de luar
Implorando a ajuda de Deus
Andando eu a vaguear
Viro os olhos para os céus.

E além , um pouco a Leste
À  distância de um olhar
Vejo, no espaço celeste,
Aquela estrela a brilhar.

Mas tu és aquela estrela
É a tua luz a iluminar
O caminho, que ao vê-la
Me parece a ti levar.

É uma luz tão intensa
Que a Lua  sem se importar
Sente uma alegria imensa
E fica, assim, a cintilar.

Teu brilho, de tão intenso
A noite em dia transforma.
Que o céu azul, imenso
Com tua luz se conforma.

Quem dera que também eu
Como ele me conformasse.
Bastar-me ver-te no céu
Que tua luz me bastasse.

E espero que a noite venha
Crescendo em mim a ansiedade
E ainda que te não tenha
Mato um pouco a saudade.

Se só no escuro te vejo
O dia é de escuridão.
É a noite que eu desejo
O dia me traz solidão.

E um dia, no meu morrer
Se em luz me transformar
Nunca mais eu vou sofrer
No Céu te vou encontrar.

E se à tua luz tão forte
A minha acrescentar
Libertados, então, da morte
Buscaremos um novo lar.

Formaremos um cometa
Para o Espaço atravessar
Que nada se intrometa
Tudo iremos ultrapassar.

E as estrelas, em manto
Nos irão acompanhar.
Tudo será um encanto
Um espetáculo de pasmar.

E bem para lá do horizonte
Em qualquer outra dimensão
Lá, onde só o amor conte,
Voltará, de novo, a paixão.