segunda-feira, 15 de abril de 2013

POESIA DO DESESPERO - MURMÚRIOS DO TEMPO






No topo de uma colina
Escuto o murmúrio do vento
Que minha alma examina
E me apura o pensamento

Saindo de tudo e de todos
Nela me vou retirando
Na cidade ficam lodos
Aqui me vou encontrando

Por acaso, nela aportei
E me venho fundeando
Foi um refúgio que achei
E onde me vou abrigando

Já quase não resta gente
Já quase não há ninguém
Morrendo está, lentamente
E eu passando, também

Aqui encontro o Espaço
A inspiração que me volta
E todo o Universo abraço
E a minha mente se solta

Caminho de noite e de dia
Em trilhos na mata rasgados
Procuro a paz e a sintonia
Com meus sonhos adiados

E ausentado, vou escutando
Sublime música ao caminhar
Que génios me foram legando
Que sorte a poder desfrutar









Nos campos abandonados
Reinam silêncios imperiais
Tiveram vida, cultivados
Deram frutos e cereais


Por tudo me deixo tocar
É recanto feito para mim
Rendo-me, à noite, ao luar
Estrelas brilham sem fim

Por aqui o tempo parou
Para mim parece voar
Aqui tudo se aquietou
Sobro eu a me inquietar

Já quase tudo definhou
Nem uma criança a brincar
Há tanto que o tempo as levou
Como a mim irá levar

E com a mente vou recriando
Passados tempos e gentes
Suas casas vou achando
Ruínas que doem, dormentes

E sobram terras por tratar
Por velhos muros divididas
Construídos para preservar
Possessões agora perdidas











Não há igreja nem cemitério
Sem mortos e quase sem vivos
Terão a morte, não há mistério
Mas, em vida, já são cativos





E os dias são sempre iguais
Faltam bares e restaurantes
Não há prisões e hospitais
Assim será como dantes

Árvores e vinhas por podar
Dão frutos que ninguém quer
Os terrenos estão por arar
Cresce livre o malmequer

Velhos arados enferrujados
Morreu o burro e o lavrador
Carros há, mas estão parados
Sem rodas nem condutor

Ainda há palha nos currais
Ocos, fantasmas, esventrados
Não há vestígios de animais
Foram todos devorados

Sinto, aqui, o momento
Sobra tempo para meditar
À chuva, ao Sol e ao vento
Aqui procuro me inspirar

E há poços em profusão
Não há ninguém para beber
A água que ainda dão
Faltam vidas para a sorver

E nas batalhas da indecisão
Contenho o meu frenesim
E doendo me vai a razão
Em lutas que não têm fim

Meu coração dolorido
De tudo querer abarcar
A tudo procura o sentido
Do nada se quer afastar

Já sei todos os caminhos
Já palmilhei mil carreiros
Onde agora há cordeirinhos
Já se mataram guerreiros