quarta-feira, 29 de junho de 2011

POESIA DO DESESPERO - RIO SEM MARGENS

Suspendi  minha paixão, a música, para tentar fazer poesia. Só me resta  recuperar o tempo perdido, levando a música para a ultima morada. Irei com auscultadores. MÚSICA ETERNA,  ARTE SUPREMA, MINHA PAIXÃO



SÓ QUIS...


Só quis um dia escrever
Coisas simples, sem poesia.
Arlequim nunca quis ser
Falho sou, de fantasia.

Só quis um dia alinhar
Versos que a mente forjou.
Minha fonte está a secar
Rara água dela jorrou.

Só quis um dia dizer
Verdades minhas, universais.
Que alguém pudesse entender
De minha alma, seus sinais.

Só quis um dia partilhar
A minha visão do mundo.
O que me está a torturar
Cada sonho vagabundo.

Só quis um dia derramar
Minhas inquietudes reais.
Ainda acabo a declamar
No deserto, aos chacais.

Só quis um dia espalhar
Confissões, versos e hinos.
Que candura eu visionar
Poder açoitar destinos.

Só quis um dia compartir
Actos de uma vida cheia.
Mas enlaçado, sem resistir
Sou o insecto preso na teia.

Só quis um dia contar
Mil sensações de viagens.
Corro o risco de tombar
Passeio em rio sem margens.

Só quis um dia espalhar
Gritos de alma, momentos.
Só o vácuo me pôde escutar
Tempo perdido, tormentos.

Só quis um dia inventar
E em meus versos a animei.
A que sempre quis sentar
Num trono que imaginei.

Só quis um dia encontrar
Utopia, o sentido da vida.
Acabei por me ensarilhar
Num labirinto sem saída

Só quis um dia explorar
Um caminho novo, meu.
Mas após tanto errar
As mãos atadas, ateu.

Só quis um dia, ao morrer
Não ser só um que viveu.
Uma vida sem a merecer
E em que nada aconteceu.

 Só quis um dia, no obscurecer
Da árdua caminhada, a minha.
Algo abandonar, por algo haver
Algo ter doado, que não definha.

 Só quis um dia, ao se esgotar
O ser que me aconteceu.
Poder sorrir e glorificar
Tudo que a poesia me deu.