segunda-feira, 22 de março de 2010

POEMAS DO DESESPERO - A CUNHA




E a nossa realidade
É mesmo uma tradição
E Tem tal intensidade
A cunha é uma instituição

Promove a falsidade
Premeia a inação
Cerceia a liberdade
Torpedeia a criação

Usa-se em qualquer idade
E em toda a situação
É uma calamidade
É a bestialidade em acção

E quem tinha qualidade
Só lhe resta a frustação
Roubam-lhe a oportunidade
Incríveis esforços em vão

Imbecis de especialidade
A cunha de formação
Manobram com boçalidade
Altos cargos da Nação

Mete-se com leviandade
É um acto de perversão
É crime , uma barbaridade
Que merecia punição

Transforma a feia em beldade
Faz , de um polícia , um ladrão
Faz, do cretino, uma sumidade
Consegue uma absolvição

Estimula a mediocridade
Não é mais que corrupção
Diminui a produtividade
É tráfico, é extorsão

De total transversalidade
De geração em geração
Fomenta a incredulidade
É vergonha e maldição

Castra a mocidade
Promove a desmotivação
O mérito é uma inutilidade
Inibe a imaginação

A ignorante obesidade
Em lugares de eleição
Fruto da imoralidade
Tem direito a beija-mão

Desfaz sonhos e felicidade
Provoca a indignação
Emigra a individualidade
Instala-se a devassidão

Mas é uma calamidade
É uma afronta à razão
Ver, com que impunidade,
A tudo deitar a mão

Apregoam a moralidade
Têm a cunha por função
Distribuem com facilidade
Os frutos da sua traição

E como ultima vontade
Cunha-se coveiro e sacristão
Nem na morte há igualdade
Chovem cunhas no caixão

E terá tranquilidade,
Quem semeia a humilhação?
Quem vive da iniquidade,
Que é a cunha, podridão?

Filhos da cunha , piedade
Dispam-se da presunção
Sois párias da sociedade
Sois pecado sem remissão

Há, apenas, uma verdade
Quem a mete é um ladrão.
Distorce , engana , é maldade,
Quem a aceita é vilão

Creio na igualdade
E na justa retribuição
Foi desejo da divindade
Promover a competição

Que estimula a vontade
Que conduz à evolução
Que ajuda a humanidade
Na busca da perfeição