Chorava, já antes de nascer chorava
Sofria, já antes de nascer sofria
Contava, já o meu tempo contava
Morria, já antes de viver, morria
Sabia, no instante de ser gerado
Que, um dia, a ser pó voltaria
E como tudo o que nasce, limitado
Sabia, desde logo, que acabaria
E sem nunca ter sido ouvido
Mas certo de que me aceitaria
Porque a não vir era perdido
O milagre que me caberia
E mesmo com um destino traçado
E com um fim que era sabido
E brotando inocente e condenado
Sei o assombro de ser concebido
E cuidando saber que entendi
E porque creio no poder da razão
Pelo que a vida me fez, aprendi
Que não sou acaso, sou missão
E porque estou certo do motivo
E do Mistério de eu ter que ser
Sou, em cada dia em que vivo
Renasço, enquanto amanhecer