quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

POESIA DO DESESPERO - A DEGOLA DOS INOCENTES





No beco do desespero
A fé, de mim, desistiu.
Expirado, já nada espero
Pois o meu crer sucumbiu.

Consumido por mil partidas
Só aguardo o campo santo.
Abdiquei de lutas perdidas
Jazerei em qualquer canto.

Não foi por obra do destino
Que minha crença tombou.
Foram os sonhos de menino
Que a sociedade abafou.

Foi também pela danação
De não me bastar o que sou
Que despertou tal aflição
Que minha alma afundou.

Por não se ver acomodada
Na estação a si concedida
Silenciou, ao não ver escutada
A raiva que em si é jazida.  (*)

Porque assombrada pela cupidez
Dos que a Lusa Pátria ataram
E aniquilada pela pequenez
Dos cativos que a sujeitaram
                                            
Que sabedores que suas crianças
Serão pasto dos opressores
Dormem ébrios, em temperanças,
Não expulsando os agressores 

São meninas, minhas lágrimas,
Dos meus olhos vão pulando.
Fugindo com minhas lástimas,
Do meu rosto vão escapando.

Porque temerosas do terror
Que nele levantou mercado
Não querem acrescentar dor         
À dor que o já tem marcado

Saltam lestas como dardos,
Nem na minha face tocando.
Finam-se, algumas, em fados
Que os cativos vão cantando

Mas outras, de tão cansadas,
De impotência e desencanto,
Juntam-se a outras tomadas,
De incerteza, temor e espanto.

Atam-se às lágrimas de choros
Das crianças que ao crescer
Vêm em histórias de tesouros
Trigais de sonhos a arder

Incendiados pela malfeitoria
Que ainda no berço as escolhe
Como clientes para a mercadoria,
A droga que desembarca no molhe

Lusas crianças de Pátria arredia,
Já de um futuro apartadas
Será que sabeis da nazi perfídia,
A das meninas exterminadas?

Noivas vítimas da escravidão
Dos nazismos dissimulados
Estejam atentas à sofreguidão,
Dos governantes desgovernados

Reparem nos efeitos atrozes
Dos que à vossa volta ululam
Filhotes viciados dos algozes
Que outros algozes bajulam

Lobos esfomeados de vidas
Que em alcateia, ao anoitecer,
Sugam vidas desprevenidas
Lágrimas de pais, ao alvorecer.

Amarga criança, lágrima minha,
Vencida gota de amor perdido
Que no colo de Deus se aninha
Pulando de meu rosto oprimido.


(*) Filão




É. Os filhotes viciados dos carrascos da pátria vão arrastando para o vício, e para a morte, os filhos daqueles que trabalham e lhes pagam as mordomias, através dos impostos. Assim sucede nas praxes, nas discotecas, nas estradas, etc. Numa madrugada qualquer, os pais são acordados para irem à morgue reconhecer o cadáver dos seus filhos. Os carrascos, amparados numa justiça igualmente viciada, defendem-se argumentando que são acidentes. Escapam os que emigram. São só roubados quando regressam.


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