Depois do cerco
Durante o cerco
Porque rio, choro e canto
Porque procuro ser gente
Defendo-me no meu Lepanto
Oh mentes paradas na infância
Oh cérebros desaproveitados
Fiquem com a vossa ganância
Como vegetam, alienados
E da bruta arrogância
De que estão embriagados
É fruto da ignorância
Em que estão atolados
Abomino a subserviência
Antecâmara da escravidão
Falta-me a paciência
Para seguir o padrão
O comportamento estudado
A rotina instituída
De ter o destino traçado
Desperdiçando a vida
Condeno o gesto encenado
A palavra certa e contida
Que não tem o efeito esperado
E, pelos olhos, desmentida
Eu , auto-amordaçado,
Nas ondas da aparência?
Navego, vivo acordado
Nos mares da incontinência
Do rebanho controlado
Escapei à custa da mente
Da normalidade transviado
Procuro, só, ser diferente
Por isso me querem abater
E armaram tantas ciladas
Nunca me irão vencer
Fileiras, tenho cerradas
Meu castelo está cercado
Muitas defesas caíram
O inimigo desproporcionado
Muitos os que me traíram
E aqueles em quem confiei
Desconhecem a minha muralha
Com eles já acompanhei
Estão no meio da canalha
Vejo-os, lá em baixo, no cerco
Conhecem mal meus segredos
Porque enterrados no esterco
De suas vidas, tantos medos
Encaro-os de frente, sorrio
Do alto do meu baluarte
Em minha força confio
É feita de coragem e arte
Ao meu sorriso reagem
Com setas envenenadas
A sorte é meu pagem
E elas são desviadas
Ao ataque respondo
Com grande determinação
Com a verdade que não escondo
Com a certeza da razão
E com a arma da estupidez
Em ataque concentrado
Fracassam mais uma vez
Mais um assalto frustrado
Atiram fardos a arder
De mentiras bem embaladas
Não os consigo deter
Minhas portas são arrombadas
Mas eis que uma força indizível
Rugindo como um vulcão
Cria um fosso intransponível
Retira a turba , em confusão