I
Foi um milagre espantoso
Que converteu uma Nação
Um momento embaraçoso
Que culminou em aparição
I-A
Narro a epopeia de um eleito
Daquelas que a História regista
Comendas brilhando no peito
E um cérebro de terrorista
I-B
Habilidoso, sobre-dotado
Nas margens da genialidade
Um caminho cedo esboçado
Caprichoso na puberdade.
I-C
Robusto de qualidades
Imensas, únicas, brutais
Esgrimindo falsidades
Como verdades universais
INOCÊNCIO FALCÃO ( O MÃOZINHAS ) |
II
Ao néscio beijar a mão
Ser manso com o malvado
Ser oportunista e aldrabão
E teremos um deputado
III
Já habilidoso na escola
Astuto como os gatunos
Já cobiçava a sacola
E a mesada dos alunos
IV
Com espantosa progressão
Em carreiras facilitadas
Conquista grosso quinhão
À custa de trapalhadas
V
Aos poderosos beija a mão
Se lhe ordenam dá latidos
Mas ruge mais que o leão
É forte com os oprimidos
VI
Pairando como o condor
E imitando o camaleão
Prospera a todo o vapor
Incha como um pavão
VII
Mas antes fareja caminhos
Sabe que o dia há-de vir
Mexe bem os cordelinhos
A um Município irá presidir
VIII
E cúmulo da humilhação
Que a sua subordinada
Com muito mais formação
Seja, por ele, assediada
IX
É insaciável o seu ego
Despesas sempre a subirem
Nem sabe cravar um prego
Mas fortunas a sorrirem
X
E espalha a podridão
Desgraça por todo o lado
Mas tem outra ambição
Pretende ser deputado
Desgraça por todo o lado
Mas tem outra ambição
Pretende ser deputado
XI
Chega célere ao parlamento
Logo é líder da bancada
E presto, como o pensamento
Joga a sua suja cartada
XII
Fabrica leis, manipula
Envolve-se em negociatas
É ele que tudo estipula
Rios de dinheiro, cascatas
XIII
Tudo compra e corrompe
Não sabe o que é a moral
Onde sua ambição irrompe
Ficam destroços de vendaval
XIV
E na terra onde nasceu
Todos lhe querem falar
Tudo o que existe é seu
Vem seu busto inaugurar
XV
E vem o povo a correr
Chega o padre a ofegar
A emoção é de tremer
Todos lhe querem tocar
XVI
Puxa o fio, cai o pano
As gentes a aplaudirem
É o evento do ano
Foguetes a explodirem
XVII
Passam carros de bombeiros
Com as sirenes a assobiarem
Fogo de artifício, morteiros
E os militares a desfilarem
XVIII
Reina tão grande comoção
Há lágrimas em todos os olhos
Pelo deputado há devoção
Fazem-se promessas aos molhos
XIX
E faz-se um absoluto silêncio
Nem um pássaro se ouve piar
Prepara-se o deputado Inocêncio
Para, solenemente, discursar
XX
Mas algo vem pelo ar
A humilhação do deputado
Vem uma pomba sujar
O busto do homenageado
XXI
E tremendo de indignação
Vai um cigano disparar
Empunhando um pistolão
A ave, ele quer matar
XXII
Mas há momentos fatais
Segundos que fazem história
Daqueles que nunca mais
Se apagarão da memória
XXIII
Foi o destino ou foi por azar
Que sendo à pomba destinado
Vai o projéctil atravessar
O peito do homenageado
XXIV
Que com a força do impacto
E pensando que ia morrer
Pensa em seu ouro, a recato
Cai no solo, ao desfalecer
XXV
Mas ainda intenta falar
No meio daquele alvoroço
E o que consegue balbuciar
Soou, ao povo, como poço
XXVI
E logo ali se conjecturou
Que lá estaria escondido
O tesouro que ele juntou
E que seria bem nutrido
XXVII
Corre a turba, alvoroçada
Atropela velhos e crianças
É uma louca debandada
Vão pesquisar abastanças
XXVIII
E multidões de todas as idades
Em busca do tesouro escondido
Vasculham campos, propriedades
Do deputado, que crêem falecido
XXIX
Nada há que fique inteiro
São as árvores arrancadas
Há um incêndio no celeiro
As paredes são esventradas
XXX
Pelos ares já foi a ermida
Começam o solo a escavar
E encontram uma jazida
Quando estavam a perfurar
XXXI
Era ouro, era um filão
Pararam e ajoelharam
Tinham a riqueza na mão
Olhos no céu, choraram
XXXII
Mas acorda o deputado
Que tinha só desfalecido
Da morte foi resguardado
Porque o tiro amortecido
XXXIII
Por dinheiro, era um pacote
Que no seu bolso levava
Era o suborno de um magote
De gente que apadrinhava
XXXIV
Correu para o que era seu
As forças haviam voltado
E a multidão surpreendeu
Festejando o rico achado
XXXV
Que ao vê-lo ali, escorreito
Julgou ser uma assombração
E gritando, murros no peito
Desertou em convulsão
XXXVI
Só por lá ficou, estarrecido
Aparecido Mata, o cigano
Que, sem fala, humedecido
Por ser causa de tanto dano
XXXVII
E “o mãozinhas”, Inocêncio Falcão
Logo ali viu uma oportunidade
A de ter “o pistolas” sempre à mão
E com Aparecido fez sociedade
XXXVIII
Que se estuda nas escolas
É a “Inocêncio & Aparecido”
Mas “Mãozinhas & Pistolas”
É seu nome mais conhecido
Logótipo da empresa " Inocêncio & Aparecido"
O deputado Inocêncio Falcão repousando, anos
mais tarde, depois dos meritórios serviços
prestados ao seu povo. O "pistolas"é hoje,
membro do Conselho Superior da Magistratura,
cargo para o qual foi indicado pelo seu partido
PORQUÊ, MEU POVO?*
O que se esperava de mim?
Talvez dócil, espinha curvada
Mais um fraco, se fosse assim
Não sou mente acomodada
Não sou mente acomodada
É. O povo tudo quis, tudo pensou ter e agora tem a factura.
Quando acordarás, povo? Quando irás perceber que te
adormeceram com futebol, novelas e outras porcarias?
E que te endividaram, irremediavelmente, e aos teus filhos
e netos? Tu inculto, completamente espoliado por outros,
tão incultos como tu, mas com o gene da vigarice no corpo
As forças do mal que levaram um povo milenar à ruína
O polvo, constituído pela justiça, escritórios de advogados,
os 2 partidos políticos que se alternam no poder e seus
comparsas no parlamento e municípios
PESCADOR DE ILUSÕES |
FOI A HISTÓRIA DO DEPUTADO INOCÊNCIO FALCÃO, DE ALCUNHA "O MÃOZINHAS E DO CIGANO APARECIDO MATA, DE ALCUNHA " O PISTOLAS"
*Tudo isto se passa em Cassiopeia, bem longe do planeta Terra
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