A ESPERANÇA DE UM POVO |
Meu futuro é colorido
Nem necessito estudar
Estou inscrito no partido
Para quê me preocupar?
Eu vivo para o instante
Ninguém há que me bata
Sou um génio do volante
Seis carros já na sucata
É quando a noite cai
Que brilho com mais fulgor
Sou o orgulho de meu pai
Aos outros pais levo a dor
Em álcool e droga ensopado
Por vezes, também trafico
A justiça está do meu lado
É que meu pai é político
Foi ele que me ensinou
Que tudo é negociado
Até o diabo enganou
Meu papá é advogado
Tem escritório montado
Lá prepara tubarões
É que meu pai é deputado
No parlamento faz milhões
Fabrica leis à medida
De empresas de conveniência
Negócio com contrapartida
Irei eu para a presidência*
Serei, então, presidente
Do conselho de administração
Sou um tipo inteligente
Não me falem em corrupção
Não passam de invejosos
Que não souberam singrar
Eram alunos estudiosos
Mas tiveram que emigrar
E enviam, para cá, o dinheiro
Que, por lá, estão a ganhar
Julgam encher seu mealheiro
Aos meus bolsos irá parar
É que o banco onde depositaram
As poupanças para a velhice
Os do meu partido assaltaram**
É esperteza, não é vigarice
Eles trabalham e eu embolso
Eles estudaram e eu brinquei
E se refilam ainda os torço
É que eu estou acima da lei
Sou do partido no poder
Meu irmão é da oposição
É um golpe para o papá ter
O país sempre na mão
Um deputado, do partido no poder, e seu irmão gémeo, do
partido da oposição lançando no vácuo o último sobrevivente
do povo a quem tudo roubaram
Já não sobrou ninguém para aplicar este correctivo
** Tudo isto se passa em Cassiopeia, longe do planeta Terra. O banco saqueado ( sete mil milhões de Euros) chama-se BPN . É o povo de Cassiopeia que está a pagar, com descontos nos vencimentos, pensões, impostos e cortes na saúde. Os ladrões, altíssimas e respeitadas figuras passeiam-se, impunes
* Eu posso escolher, em alternativa, chefiar institutos públicos , empresas municipais, municípios, ser chefe de gabinete, etc. O meu partido e o partido do meu irmão já têm mais de 500.000 afilhados, assim colocados. Há sempre um lugar para os eleitos. Os outros, os que sobram e que não pertencem aos nossos partidos, que façam pela vida. Tomem calmantes e emigrem. MAS EU TENHO ALGUMA CULPA DE SER ESPERTO?
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