A velocidade desconcertante
Bem maior que o pensamento
A caminho do espaço distante
Vai minha poesia e alento
Em busca de vida nas estrelas
Que em algum lugar há-de haver
Vão meus versos, minhas telas
Vai minha alma, vai meu ser
Vão num cometa, gravados
Cruzam os céus infinitos.
Um dia serão encontrados
Ou para sempre malditos.
Deixarão o sistema solar
Em busca de outros mundos.
Poderá alguém os declamar
Até os reconhecer, profundos.
Bem longe da Terra abastada
De miséria, arrogância e morte.
Livres da ignorância instalada
Pode ser que tenham sorte.
E apartados da bestialidade
Que a mente humana fustiga
A anos-luz da imbecilidade
Espero que, um dia, alguém diga:
“Ainda sobrevive na Terra?
Que observamos com nojo.
Quem não pense só em guerra?
Quem não passe de um despojo?
Quem apregoe a verdade?
Em versos de ira incontida.
Num mundo de falsidade
De estupidez desmedida.
Ainda há quem se atreva?
Nesse planeta brilhante?
Acender a luz na treva?
Da idiotice dominante?
Quem clame pela Justiça?
Nas mãos dos depravados.
Quem reme contra a preguiça?
Dos cérebros manipulados.
Quem denuncie a política?
Nas garras da podridão.
Que explora a pacifica
Indolência da multidão.
Quem lamente as religiões
Nas mãos de delinquentes.
Que em inflamados sermões
Entregam bombas aos crentes.
Quem condene a escravidão
Que de novo recrudesceu.
Com a ganância e devassidão
Que do capitalismo renasceu.
Quem chore por sua Nação
Nas garras do consumismo.
Que pariu uma geração
Acobardada no conformismo.
Quem lastime o seu povo
Que se deixou enganar
Por um tenebroso polvo
Que permitiu se instalar.
Quem denuncie a impunidade
Dos patifes engravatados.
Quem defenda a igualdade
E os princípios, já sepultados
Continua assim a escrever
Mesmo que não vás muito além.
Terás sido, ao morrer
Não mais um, mas alguém.
Alguém com um ideal
De esperança, justiça e paz.
As contas são no final
Conta o que se faz ou não faz.
E combate pela liberdade
Do pensamento e da acção.
E conquista a eternidade
Nos campos da inquietação.”
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