Houve um tempo, o da caravela
Que se via ao Tejo aportar
Trazia ouro, prata, canela
Vinha das terras de além-mar.
Trazia ouro, prata, canela
Vinha das terras de além-mar.
Nas velas ao vento ondulando
A cruz de Cristo encarnada
Partia com servos chorando
Escravos gemendo à chegada.
A cruz de Cristo encarnada
Partia com servos chorando
Escravos gemendo à chegada.
Zarpava carregada de gentes
Que à Pátria não iriam voltar
Lá iam resignados, tementes
Dos perigos que havia no mar.
Que à Pátria não iriam voltar
Lá iam resignados, tementes
Dos perigos que havia no mar.
Ficar, era definhar e morrer
E escutara o apelo do mar
Sabedores do ancestral sofrer
Fartos da servidão a imperar.
Sabedores do ancestral sofrer
Fartos da servidão a imperar.
E desde há séculos partidos
Tantos hão que não voltaram
Por sua Pátria esquecidos
Os seus rastos se apagaram.
Tantos hão que não voltaram
Por sua Pátria esquecidos
Os seus rastos se apagaram.
Da Amazónia a Timor
Em batalhas se consumiram
E Portugal? Saudades, dor
Nunca mais seus olhos viram.
Em batalhas se consumiram
E Portugal? Saudades, dor
Nunca mais seus olhos viram.
A miséria volta a espreitar
E como seus avós, exauridos
Gente oprimida, a escapar.
E como seus avós, exauridos
Gente oprimida, a escapar.
Ai minha gente avassalada
Alguma vez acordarás?
Porque caminhas, curvada,
Quando será que sacudirás?
Alguma vez acordarás?
Porque caminhas, curvada,
Quando será que sacudirás?
O colossal polvo, insaciável
Que te atraiçoa e te explora
Inventa já um condestável
Que ele tarda e tarda a hora.
Que te atraiçoa e te explora
Inventa já um condestável
Que ele tarda e tarda a hora.
Nem tens pena de teus filhos
Que um futuro merecem
Liberta-te, decepa os atilhos
As armadilhas que te tecem.
Que um futuro merecem
Liberta-te, decepa os atilhos
As armadilhas que te tecem.
Porque és manso, adormecido,
E apartado, sem pensamento?
Porque ignorante, embrutecido,
Folha caída, arrastada ao vento?
E apartado, sem pensamento?
Porque ignorante, embrutecido,
Folha caída, arrastada ao vento?
Mas já não há velas, nem caravelas
Com cruzes de Cristo, encarnadas
Cor da desesperança, a das vielas
Cheias de vidas, fartas de nadas.
Com cruzes de Cristo, encarnadas
Cor da desesperança, a das vielas
Cheias de vidas, fartas de nadas.
ARRE!!!!!