Desenganado, já velava,
Que só eu viria a sobrar.
Meu rosto não se alegrava,
Dolência, dó no olhar.
E espero, sem nada esperar,
Que a espera não será vasta.
Pela hora que irá chegar,
Ao findar esta vida gasta.
E, morto vivo, aguardando,
A morte me reclamará.
E, vivo morto, chorando,
Ninguém, por mim, chorará.
E tudo estará acabado
O círculo será fechado.
E no tempo que nascerá,
Ninguém, de mim, saberá.
Mas em cada dia que brota,
Há um novo amanhecer.
Vou seguindo a minha rota,
Até que nasça o anoitecer.
E prosseguirei consciente,
De metas que desconheço.
Apenas me resta o presente,
É nele que me reconheço.
E questiono, espantado,
O que vejo à minha volta.
Estará certo, estará errado?
E cresce em mim a revolta.
E vivendo sem me vender,
E sabendo da escravidão.
De raiva venho a escrever,
Poemas de desesperação.