" SOU O SOL DE ALGUÉM" |
Sou filho da Terra e do Céu
Sou semente da liberdade
Quem disser que sou só seu
Mentirá à verdade
Eu nunca serei de ninguém
De alguém serei possessão
Tão pouco daquela por quem
Me venha a perder, de paixão
Sou o vento que se sente
Mas que se não pode tocar
O Sol surgido a Oriente
O cintilo que pode cegar
Sou o brilho das Estrelas
Alindando a noite escura
E sou a chama das velas
Que luzem na sepultura
Sou a força das marés
E solto, apenas, poesia
O cativo que nas galés
Se ampara na utopia
Eu sou o areal dourado
Sereno espelho ao luar
Eu sou o grito sufocado
O pranto por desaguar
Eu sou um filho de Deus
Minha mente é infinita
Eu sou o ateu dos ateus
Sou a semente bendita
Eu sou a desconexão
Entre o viver e o sofrer
Sou fruto da sedução
Não perecerei ao morrer
Sou escravo da melancolia
Nato entre a paz e a guerra
Por vezes, manifesto alegria
Sou um passageiro da Terra
Sou efeito da tempestade
Eu sou um sobrevivente
Sou o arauto da verdade
E da traição sou temente
Sou a árvore tombada
Onde nasce uma flor
Eu sou a raiz enterrada
Nos idos campos da dor
Sou a face oculta da Lua
Eu sou a Fé e o Mistério
O Direito que caiu à rua
O silêncio dum cemitério
Sou deserto, a faminta criança
Que os abastados esqueceram
Mas sou o oásis da esperança
Para os que a fé já perderam
Sou o apóstolo da rebelião
De todos os injustiçados
Um cérebro da insurreição
Recrutando escravizados
Eu sou a voz, eu acalento
Cada ser vivo humilhado
Mas com a mente afugento
Desarmando o desalmado
Eu sou o que se levanta
Contra as cruéis tradições
E sou o urro que espanta
As selvagens multidões
Eu sou tudo, eu sou nada
Sou uma alma do Universo
Tenho uma hora marcada
Não poderei ser perverso
E por ser tudo, eu sou espaço
Sou onde fervilham as ideias
Tento honrar no que faço
O sangue que tenho nas veias
E por não ser nada, serei tudo
E tudo haverá por sondar
Nunca me esquecendo, contudo
De, como mil trovões, gritar:
“Que quem julga que tudo é
Chafurda na devassidão
Descende de um chimpanzé
Será cadáver em putrefação
É o cego que tudo quer
E que a tudo deita a mão
Dele dirão, ao morrer,
Nada é, viveu em vão
Dos outros fez suas presas
Nem viu seu filho crescer
Roubou vidas e riquezas
Que outros irão derreter
Que foi parte de uma praga
Que assola a Humanidade
E que só agravou a chaga
Pregando a bestialidade”
E sendo tudo, a todos pertenço
Hoje, sempre, e no além
Mas sendo nada, eu não convenço
E jamais converterei alguém
Mas intento ser merecedor
Do milagre que é a vida
Creio que sairei vencedor
Na hora da despedida
" EU SOU NADA" |