O fim da escravatura
Há séculos foi decretadoMas, aqui, país escravizado
Ela fustiga, assim, dura.
É uma forma de tortura
Ver um povo endividado
De joelhos, angustiado,
Sem a esperança que cura
Minado pela amargura
Deprimido e anestesiado
Tão triste e defraudado
Não vislumbra a ruptura
Já se finou, a ditadura,
E o sonho sempre adiado
A verdade, crua e dura,
Um país na mesma , parado
Futebol como licenciatura
É um filão inesgotado
E se a selecção se apura
É a loucura , em puro estado
E se alguém fala, sem estatura
Por milhões é escutado
Em jornais de grande procura
Esmiúça-se o golo anulado
De manhã à noite escura
Com novelas extasiado
E o tempo da ternura ?
Passou , desperdiçado
Espreitando pela fechadura
O seu "jet-set", gansado.
Comenta-se , com desenvoltura
A vida de qualquer falhado.
Como dói tanta incultura
A educação é um fardo
É um pesadelo que dura
É um ensino abandalhado
Com sindicatos à fartura
E também mal preparado
O magistrado só procura
Incrementar o ordenado
É mesmo uma desventura
Que num País depauperado
Provoque o vómito e a soltura
A impunidade do magistrado.
E a excessiva brandura,
A do pai desleixado.
Quem pagará a factura?
Será o filho, premiado.
Já não bastava, alcoolizado,
Nas drogas, sá a mais dura
Outro carro espatifado,
É tudo uma diabrura.
E com a sua candura,
De consumidor desenfreado,
O Pai ama , mas não o atura,
E oferta tudo, ao fiho falhado.
A justiça é um achado
Corporativa e obscura.
Mereceria um tratado,
"Nojenta magistratura".