terça-feira, 30 de abril de 2013

POEMAS DO DESESPERO - MARES DE LÁGRIMAS




Meditando, desolado,
Marcho triste, junto ao mar.
Do mundo torpe, alheado,
Aqui estou, só por estar.

Embalado pelo mar sereno
De ondas mansas, azuladas.
E cai o crepúsculo, ameno,
Céu de estrelas prateadas

É salgado, de águas salgadas
E é um lago, Senhor, é um lago
É o sal das lágrimas choradas
Tais são os danos que trago.

São mesmo gotas, Senhor
Que vedes, neste lago, retidas
São prantos, são choros de dor
São minhas lágrimas caídas

Salgadas, pérolas brilhantes
Com outras são misturadas
Com lágrimas antigas, errantes
Há séculos perdidas, choradas

São dos meus antepassados
De sua terra partidos
Jazem no Mar, naufragados
Ideais, sonhos perdidos.

Porque jamais encontraram
Porto Seguro onde aportar.
E suas lágrimas tornaram
Às Lusas praias, seu lar.

Recordam aos seus descendentes
Que existiram, que eram de vidas
Como as de hoje, descontentes
Como as de então, serão perdidas

Como em quinhentos, vertidas
Prantos e lágrimas de nadas
Quando findarão as partidas
É hora das barricadas.


LÁGRIMAS DOS NAVEGADORES
ÀS DE HOJE SE VÊM JUNTAR
PESADELOS REPETIDOS, DORES

 IRÁ O TORMENTO FINDAR?
                     
                                       VÃS LÁGRIMAS



E ÀS LÁGRIMAS DOS DE ENTÃO,
AS DOS DE HOJE SE JUNTARAM.
INFINDAS, DE DEVASTAÇÃO,
MIL LAGOS ELAS CRIARAM.
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segunda-feira, 15 de abril de 2013

POESIA DO DESESPERO - MURMÚRIOS DO TEMPO






No topo de uma colina
Escuto o murmúrio do vento
Que minha alma examina
E me apura o pensamento

Saindo de tudo e de todos
Nela me vou retirando
Na cidade ficam lodos
Aqui me vou encontrando

Por acaso, nela aportei
E me venho fundeando
Foi um refúgio que achei
E onde me vou abrigando

Já quase não resta gente
Já quase não há ninguém
Morrendo está, lentamente
E eu passando, também

Aqui encontro o Espaço
A inspiração que me volta
E todo o Universo abraço
E a minha mente se solta

Caminho de noite e de dia
Em trilhos na mata rasgados
Procuro a paz e a sintonia
Com meus sonhos adiados

E ausentado, vou escutando
Sublime música ao caminhar
Que génios me foram legando
Que sorte a poder desfrutar









Nos campos abandonados
Reinam silêncios imperiais
Tiveram vida, cultivados
Deram frutos e cereais


Por tudo me deixo tocar
É recanto feito para mim
Rendo-me, à noite, ao luar
Estrelas brilham sem fim

Por aqui o tempo parou
Para mim parece voar
Aqui tudo se aquietou
Sobro eu a me inquietar

Já quase tudo definhou
Nem uma criança a brincar
Há tanto que o tempo as levou
Como a mim irá levar

E com a mente vou recriando
Passados tempos e gentes
Suas casas vou achando
Ruínas que doem, dormentes

E sobram terras por tratar
Por velhos muros divididas
Construídos para preservar
Possessões agora perdidas











Não há igreja nem cemitério
Sem mortos e quase sem vivos
Terão a morte, não há mistério
Mas, em vida, já são cativos





E os dias são sempre iguais
Faltam bares e restaurantes
Não há prisões e hospitais
Assim será como dantes

Árvores e vinhas por podar
Dão frutos que ninguém quer
Os terrenos estão por arar
Cresce livre o malmequer

Velhos arados enferrujados
Morreu o burro e o lavrador
Carros há, mas estão parados
Sem rodas nem condutor

Ainda há palha nos currais
Ocos, fantasmas, esventrados
Não há vestígios de animais
Foram todos devorados

Sinto, aqui, o momento
Sobra tempo para meditar
À chuva, ao Sol e ao vento
Aqui procuro me inspirar

E há poços em profusão
Não há ninguém para beber
A água que ainda dão
Faltam vidas para a sorver

E nas batalhas da indecisão
Contenho o meu frenesim
E doendo me vai a razão
Em lutas que não têm fim

Meu coração dolorido
De tudo querer abarcar
A tudo procura o sentido
Do nada se quer afastar

Já sei todos os caminhos
Já palmilhei mil carreiros
Onde agora há cordeirinhos
Já se mataram guerreiros